LITERATURA

AVENIDA SÃO JOÃO: MUITO PRAZER!

 

 

Fui apresentado ao centro da cidade pela Avenida São João. Morando na Lapa fui levado pelo meu pai para conhecer o “centro da cidade”. Nos meus cindo anos, aquele passeios seria empolgante. E foi empolgante ver aquela avenida sem fim, larga, com carros, ônibus e bondes trafegando. Era tudo novo para mim: aqueles postes lindos com as três luminárias, em toda a sua extensão. Era a rua mais comprida que eu vira. E, lá no fim, uma “arranha céu”, o Prédio do Banco, branco, com a agulha no seu topo apontando para o céu.  Foi um prazer ver aquilo. Uma parada na Praça Júlio Mesquita, que ladeia a Avenida. E aí vi uma foi fonte enorme, com lagostas quase maiores do que eu subindo pelo mármore branco daquela construção que jorrava água e que tinha a escultura de uns meninos no topo. Tenho o prazer renovado ao ver a foto que meu pai tirou de mim fazendo pose, perto da lagosta.

E poder ir ver a sessão Zig-Zag nos domingos pela manhã, no Cine Metro, e ver as perseguições do Tom e Jerry, era riso e prazer, prazer que se renovou quando coloquei paletó e gravata para poder entrar naquele cinema: agora eu era adulto, ou melhor, quase adulto.

Eu adorava ir ao cinema. E a Avenida são João, também me deu o prazer da tecnologia no cinema: o Cine Comodoro, o primeiro Cinerama do país.  Sua tela de 180 graus e o som eram espetaculares. Se Você sentasse numa fileira muito a frente, tinha a sensação de estar no centro da ação, e tinha de olhar pra lá e pra cá o tempo todo. Foi um prazer ver a novidade. Mas também dolorido torcicolo também.

Nos anos 60 a novidade no entretenimento era o Boliche. Saia do curso Clássico do Colégio Oswaldo Cruz e ir com meus amigos à Avenida São João, ali perto do Cinerama e ouvir o estouro da bola nos pinos e gritar strike !.. jogar boliche, era o maior prazer.

Mas a Avenida São João me deu mais prazeres. Eu tinha um colega de trabalho que morava na Avenida São João. Um dia ele fez aniversário, e convidou os amigos para irem comemorar na casa dele. Como era de hábito, era “bailinho”. E na tarde de 17 de fevereiro de 1963 lá vou eu pra casa do Veiga. Av. São João, 1410 (acho que era esse o numero). O Sr. Veiga, Pai, muito atencioso e cordial, me recebe. Já haviam chegado vários amigos e amigas. Numa vitrola, tocavam os “LPS“ com os sucessos do momento. Alguns batiam papo, outros dançavam. Ai, eu vi uma moça linda, a mais linda que eu já vira. Era a amiga de uma amiga. Cabelos presos, saia bege, blusa azul marinho de ráfia, sapato azul marinho de salto alto, elegante e discreta. Fui à sacada. Minha amiga me apresentou. Primeira troca de palavras: “Você é paulista?”- “Sim, sou, por quê?”, “O jeito de falar, parece sotaque”, “Ah, eu não sei, não percebo”, “claro a gente não percebe o próprio jeito”… Na vitrola, tocam acordes característicos e Nat King Cole, começa: “aquellos ojos verdes…”. “Ah, eu adoro esta música… vamos dançar?” Fui.

E esse foi o maior prazer de toda a minha vida, dado por essa Avenida São João.

Casei-me e com ela dancei por 52 anos ininterruptos. Até que um dia Deus a tirou para dançar.

Avenida São João: foi um prazer conhecê-la. Muito obrigado.

 

 


CONTATOS

WhatsApp: (011) 99908-1700
Email: contato@appioribeiro.com.br

Entre em Contato para compras, sugestões ou pedidos.

Redes Sociais

©Copyright  |  Appio Ribeiro 2019. Todos os direitos reservados