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Poema do cotidiano

Poema do cotidiano

(Lido no Sarau da UATI – UNIFESP , julho 2016)

 

Se V. espera que o poeta faça,

só poemas de amor e sentimento,

não sabe que poema é como cachaça,

e dela não se foge um só momento.

 

Poeta é assim, como um pinguço:

um viciado, só que o vício é escrever.

 

O bêbado, sempre bebe, pra lembrar ou pra esquecer.

Mas quando o bêbado bebe, ele sempre diz o porquê.

Já poeta quando escreve… não sabe nem o porquê !

 

Querem ver como é?

 

Não precisa ter tema de amor,

de alegria ou de grande dor.

Poeta tem nenhum pudor,

qualquer tema serve, seja ele qual for.

 

O Poeta é um presunçoso,

ele nunca sabe de nada

Mas se engole um limão no almoço,

na janta declama: “limonada”!

 

Porém, de todos os crimes, o poeta

só não pode cometer dois:

como escravo da estética

deve respeito a rima e, depois…

também a métrica!

 

Quanto ao tema, qualquer tema serve,

Que seja simples, trivial, cotidiano.

Mas, se abre mão da grande verve,

Tem que ser muito… muito humano.

 

Estas mal traçadas linhas,

provarão o que estou dizendo.

Vocês vão ver nas entrelinhas,

a prova que estou fazendo.

 

Vamos pegar um tema: uma casa?

Um martelo?  Um poste? Uma porta?

Um fogão? Um fogo? Uma brasa?

Sei lá! Então, que tal uma torta?

 

As mulheres adoram pedir receita.

e sempre com a exata quantidade,

e, exatamente, como ela é feita.

Não gostam da liberdade!!!

 

Na massa vai farinha de trigo,

um copo, ou até mesmo dois.

De leite, a mesma quantidade.

Faça isso com toda a liberdade.

Tudo é mais ou menos, lhe digo,

Se errar?  Ora, acerta depois.

 

Meio copo de óleo na massa vai,

Pode ser de soja ou de milho,

põe menos se bem não lhe cai,

óleo só amacia e dá brilho.

 

Ah, quase me esqueci do fermento!

Põe bem pouco, pitadinhas…

… pra garantir o crescimento

quando assando na forminha.

 

Conforme seja seu desejo

coloque um pouco de queijo,

Um parmesão ou meia cura,

provolone, ou deles, uma mistura.

 

No liquidificador ponha tudo,

ou se preferir na batedeira,

obtendo um creme massudo,

aí, reserve  à geladeira.

 

Chiii, esqueci de novo,

Nessa massa vai um ovo.

 

O recheio, a seu gosto:

um simples refogado,

um temperado tira-gosto,

…ou o resto de um assado.

 

Mas aquela torta de carne,

não tinha carne de boi,

e por mais que me encarne,

repito: carne nela é que não foi.

 

PTS, shoiu e água morna,

numa panela se entorna,

e temos a carne de “horta”!

Se é bom, o que importa?

 

A tal carne vá refogando,

no óleo – de canola ou papoula –

pondo bastante cebola,

pra ficar bem temperado.

 

Junte agora na panela,

pra completar o recheio,

de forma muito singela,

mas também com muito asseio:

a ervilha, batata, e cenoura

tudo picado no esmero.

 

Mostre agora o seu talento

colocando o seu tempero.

Realçando o alimento,

mas sem nenhum exagero.

 

 

Agora, acerte o sal,

Sempre pouco, pois faz mal!

 

Vamos já aos finalmentes:

pois já estão impacientes!

 

Numa forma bem untada,

jogue metade da massa,

e por toda forma espalhada

como se fosse argamassa.

 

Põe por cima o refogado,

que vai ficar bem no meio,

escondido e camuflado

pois afinal é o recheio.

 

Cubra então o recheio

com o resto que tem de massa,

e pra ficar todo no meio

não pode ser massa… escassa.

 

Leve a torta ao seu forno,

que tem de estar bem quente –

– não pode estar só morno –

senão não assa totalmente.

 

A torta assim está pronta,

mas deixando um dilema,

fica assim por sua conta,

se a come ou lê poema.

 

Bem simples foi nosso tema     (não foi?)

não foi poema de elite,

nem foi coisa de cinema:

desejo, então, um bom … apetite.

 

Senhoras e senhores, sinto muito e obrigado,

desculpem o tempo alongado,

mas é que eu fiz promessa,

que cumpri bem ou mal:

fiquei de dar a receita …

e escrever para o sarau.

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