Ler Machado de Assis é sempre um prazer renovado.
É ver como nossa língua é rica e, quando usada com a maestria da simplicidade, permite a precisão da narrativa, a descrição com realismo, a profundidade de análise, além da crítica – sutil e elegante – dos hábitos e comportamentos.
E pensar que essa obra fora publicada em 1885, como simples folhetim – em capítulo inédito a cada edição de uma revista, A Estação, que era dirigida ao público feminino e que tratava de moda e suas tendências (vitorianas na época), mas publicou contos, poemas, novelas e outros textos de Joaquim Maria (o Machado de Assis), inclusive o romance Quincas Borba. Nada a ver com as publicações femininas atuais. Se é que as há.
A Casa Velha da história parece ter tudo a ver com a casa senhorial em que Machado de Assim viveu, como agregado, na sua infância/juventude.
Ao narrar a historia que nela ocorre, exercita sua capacidade de uma narrativa realista, ao mesmo tempo crítica aos valores e costumes da sua época, mordaz porém sutil, irônica mas elegante e não agressiva (naquela época, debates políticos não incluíam baixo calão e cadeiradas).
O título da obra e o ambiente em que se passa, já imbui uma descrição crítica do ponto de vista popular do que era conservador à época: algo velho, antigo, sólido, grande, religioso, conservador, desprovido de enfeites ou graças.
A narrativa contempla um enredo em que valores como o amor, tradicionalismo, convenções sociais, pecado e pureza, condicionam comportamentos pessoais e seus conflitos, gerando dúvidas, hesitações, expectativas e frustrações. As tensões familiares, geradas por imposições sociais e que afetam os sentimentos íntimos são relatadas pelo narrador de maneira tão imparcial quanto possível.
A análise sutil dos personagens e seus comportamentos revelam a característica das obras do autor, e nos levam a compreendê-los melhor. Machado é “inelergivel”.